O índice de sobrevivência das micro e pequenas empresas aumentou no Brasil e, atualmente, a cada dez negócios criados, sete se mantêm em atividade após os primeiros dois anos. Há uma década, metade das empresas fechava as portas nesse período. A empregabilidade no setor continua de vento em popa e todos os meses 70% das novas vagas formais surgem nos pequenos negócios. É o que garante o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Luiz Barretto.
O Brasil é um país de oportunidades, mas Barretto ressalta a importância de o empresário ter espírito empreendedor e de fazer um bom planejamento antes de abrir um negócio, sobretudo pela necessidade de avaliação dos riscos. “O mercado brasileiro está vivendo um grande momento e há muitas oportunidades para empreender, mas é importante que essa decisão seja planejada”, afirma.
Luiz Barretto é formado em Sociologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Desde fevereiro de 2011 é diretor presidente do Sebrae Nacional. Antes disso, já havia atuado na instituição, entre março de 2005 e março de 2007, como gerente nacional de Marketing e Comunicação.
Foi Ministro do Turismo no período de setembro de 2008 a dezembro de 2010. Exerceu o cargo interinamente entre junho e setembro de 2008. Também foi secretário executivo do Ministério entre março de 2007 e junho de 2008. Entretanto, sua vida pública teve início na década de 80, na Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e no Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea), ambos de São Paulo. Exerceu funções de direção nas prefeituras de São Paulo, São Vicente e Osasco, onde foi secretário de Indústria, Comércio e Abastecimento.
Nesta entrevista, ele aponta boas práticas para um negócio de sucesso, além de explicar a importância de não misturar as contas pessoais com as da empresa, os principais motivos de falência de um negócio, as dificuldades do setor e o papel de uma boa equipe.
1 - Qual o segredo para um negócio de sucesso?
Em primeiro lugar, é preciso ter um espírito empreendedor e saber lidar com riscos. Depois, é fazer um planejamento correto, aprimorar a gestão e estar sempre buscando inovar. Nesses aspectos, o Sebrae tem muito a contribuir para ajudar o empreendedor a obter sucesso.
2 - Antes de abrir um negócio, é fundamental elaborar um plano de negócios. Qual a importância desse planejamento?
É fundamental planejar todos os aspectos do empreendimento de forma bastante realista, além de buscar conhecimento sobre o mercado onde se pretende atuar e também avaliar o investimento, condições de financiamento, capital de giro, entre outros. Muitas pessoas têm vontade de ter um negócio próprio, mas é preciso avaliar a disposição ao risco, a carga de trabalho que costuma ser pesada e as melhores oportunidades. O mercado brasileiro está vivendo um grande momento e há muitas oportunidades para empreender, mas é importante que essa decisão seja planejada.
3 - Quais pontos definem a capacidade de bom atendimento aos clientes?
O sucesso de um negócio depende não apenas da qualidade do produto, mas também da correta definição de preços, da gestão adequada de estoques, da definição do canal de distribuição, do ponto de venda, do atendimento ao cliente, da negociação com fornecedores e muitos outros aspectos. Em resumo, a gestão é fundamental. Por isso é que o Sebrae tem ajudado os empreendedores a melhorar e inovar a gestão de seus negócios.
4 - As micro e pequenas empresas empregam a maioria dos trabalhadores brasileiros. Como conseguir sobreviver em tempos de grande concorrência?
As micro e pequenas empresas empregam 53% dos trabalhadores com carteira assinada no Brasil. E todos os meses, 70% das novas vagas formais surgem nos pequenos negócios. A boa notícia é que a sobrevivência dessas empresas também está melhorando: há uma década, metade delas fechava as portas antes de completar dois anos, que são os mais difíceis. Hoje, a cada dez empresas, sete se mantém em atividade após os primeiros dois anos. E os salários também estão melhorando: na última década, enquanto o salário real (descontada a inflação) subiu 4% nas grandes e médias empresas, nos pequenos negócios o crescimento foi de 14%. Os salários ainda são menores nas micro e pequenas, mas a distância vem diminuindo.
5 - Quais são os principais motivos de falência das micro e pequenas empresas?
Uma das razões mais comuns é misturar as finanças da empresa com as finanças pessoais. Um negócio próprio necessita de investimento, tempo de retorno, não pode ser tratado como um caixa particular. Por isso, as obrigações como fornecedores, empregados e impostos precisam estar bem calculadas, além é claro de prever períodos de menor faturamento e seu impacto sobre a rotina da empresa.
6 - Qual o papel da equipe no sucesso da empresa?
Em um pequeno negócio, normalmente o dono assume muitas funções, o que é benéfico para o desenvolvimento. Entretanto, ao contar com empregados, ele precisa ter o engajamento da equipe. É uma ótima notícia a valorização dos salários dos funcionários de micro e pequenas empresas nas últimas décadas, certamente isso contribui muito. O Sebrae também orienta os empreendedores sobre a gestão de funcionários e os mecanismos que o empreendedor pode utilizar.
7 - Se você tivesse que elencar as três dificuldades mais constantes das micro e pequenas empresas, quais seriam?
O acesso ao crédito está melhorando muito no Brasil, mas ainda continua sendo uma dificuldade para os empreendedores. Outra questão é a gestão. Fala-se muito em capacitar mão de obra, mas também é fundamental capacitar a gestão. Outro desafio é a inovação. Esse não é um tema restrito às grandes empresas, as pequenas também precisam buscar a inovação para aumentar sua competitividade.
8 - O que o novo empreendedor não deve fazer em hipótese alguma?
Volto a dizer, não se deve misturar as contas pessoais com as da empresa. E eu diria também que ele não deve se acomodar, pelo contrário, deve sempre buscar a inovação porque é isso que trará diferenciais ao seu negócio. O consumidor é informado e exigente. A empresa que inova na gestão, nos processos, no produto, nas ações sustentáveis, com certeza terá uma vantagem competitiva no mercado.
Por Lilian Lobato
Revista Bares&Restaurantes