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A construção de uma identidade própria conquista o engajamento do público e ajuda a expandir a marca para além do salão do restaurante; é o que afirma Fernando Júnior, proprietário do grupo Meet-Porcão em entrevista para O Café e A Conta

O episódio, gravado no Porcão em Belo Horizonte, traz as decisões estratégicas tomadas pela marca que levaram ao seu fortalecimento no mercado. Foto: O Café e a Conta

O Porcão é uma das grandes marcas brasileiras do setor de alimentação fora do lar, com décadas de tradição. Para além deste histórico, a confiança dos clientes na qualidade dos produtos cresce junto com a marca, que tem investido em um projeto de expansão.

Além dos conhecidos salões da churrascaria, a pandemia gerou um movimento de levar a marca até o cliente, o que desenvolveu não apenas o delivery, mas a criação de uma linha de produtos próprios.

Em entrevista ao podcast O Café e a Conta, o presidente do grupo Meet-Porcão, Fernando Junior, conta como a força da identidade do Porcão permitiu que esse processo acontecesse e criou um ciclo virtuoso, em que os produtos com selo da marca também passaram a reforçá-la no mercado e no dia a dia dos consumidores.

Confira um trecho:

O Porcão é um nome estabelecido nacionalmente. Como foi a trajetória da marca até os dias atuais?

O Porcão foi fundado em 1974, no Rio de Janeiro, por uma família de gaúchos que trabalhavam em churrascarias e resolveram montar uma própria, na Avenida Brasil, que era mais afastada na época. Quando eles quiseram expandir para a Zona Sul, uma área mais nobre, fizeram uma campanha entre os clientes para saber qual seria o nome da casa, que até então se chamava Churrascaria Rio Grandense, porque esse nome não poderia ser mais utilizado.

A referência para os clientes irem até lá na época era a estátua de um porco grande, que ficava atrás de um supermercado com essa marca. Então todo mundo falava “vamos lá na churrascaria Rio Grandense”, “onde é?” “Depois do Porcão”.

E por causa do jeito brincalhão do carioca de falar Porcão, foi assim que eles foram para a Zona Sul do Rio de Janeiro. Isso criou uma aproximação muito grande com o cliente desde o primeiro momento.

Eu brinco que se fosse criar a marca de uma churrascaria hoje, o nome não seria esse. Mas o Porcão criou uma identidade muito legal, um porquinho bem simpático desde sempre e assim nasceu esse nome que hoje a gente pode dizer que tem uma história muito grande, não só no Brasil como no mundo.

Sobre mudanças, você já revelou que a pandemia forçou uma expansão da marca. Como isso aconteceu?

A pandemia nos forçou a ir para a casa das pessoas, já que a gente não conseguia recebê-las na nossa, o que com certeza deu uma potencializada nesse crescimento. Nem delivery nós tínhamos antes da pandemia.

E hoje já é uma realidade, somos um super restaurante que vende bem no iFood. Outras churrascarias entraram nessa onda também, e comida boa é o que importa. Carne boa, feita na brasa, o nosso produto tem essa qualidade. E já que não dava para receber o público, a gente tinha que fazer parte do churrasco das pessoas.

E eu percebi que a gente tinha a autoridade no assunto churrasco. Qual a melhor faca para se cortar o churrasco, o melhor tempero, o melhor carvão. E esse guarda-chuva fica muito grande, mas é limitado. Quando você vai pra indústria, esse limite não existe.

Às vezes eu não sirvo mais porque não tenho mais espaço, mas se for pra vender carne, tem muita opção. Dá pra levar a picanha do Porcão para casa, a fraldinha, os temperos. E o pessoal quer dar um toque especial. Nossa linha de temperos é bem grande, então temos uma forma de elevar o nível desse churrasco.

Vocês se consolidaram no mercado por uma tradição calcada na excelência. Falando um pouco mais sobre pandemia, sem romantizar o sofrimento, vocês conseguiram fazer do limão uma limonada, porque a pandemia passou e os produtos continuam. Como foi esse processo?

Foi nesse momento que eu percebi mais ainda o poder da marca. Uma coisa que me levantou muito foi que não mandei nenhum funcionário embora na pandemia. Na época eu precisava fazer uma folha de pagamento e tudo era incerto. Então vendi rodízios a preço promocional para quando a churrascaria abrisse, pela lista de transmissão do WhatsApp, e em um dia levantei a folha.

Isso mostra a credibilidade da marca e a importância de acompanhar a referência que as pessoas têm. Eu acho que o intuito é ajudar também, mas eu vi o tanto que a marca é querida e ninguém queria que isso acabasse em Belo Horizonte. Já estamos aqui há 20 anos. Da mesma forma que as pessoas construíram o nome Porcão em 74, elas fizeram a gente estar vivo aqui até hoje.

Já escutei muito que, na crise, você tira o S da palavra e cria. Eu tinha o tempo do salão ocioso, mas não conseguia simplesmente ficar em casa. Então nós desenvolvemos cerca de 150 itens de marca própria, com parcerias, com indústria.

E qual é a porcentagem desses produtos no faturamento da casa?

Esse número cresce todo dia. Principalmente a carne, que tem um valor agregado muito alto. Hoje, eu acredito que representa 5 a 10% do meu faturamento. Porém, quando o cliente compra uma faca, isso não acaba. A pimenta que eu vendo vai estar na mesa dele por pelo menos três meses, assim como o azeite, o tempero. Em todo churrasco ele vai ver minha marca.

Isso é um reforço de marca muito forte. E nós também temos um bom trabalho online. Antes da pandemia tinha o peixe urbano, e eu brinco que a gente criou o nosso porco urbano, o clubeporcao.com.br. Hoje já representa 30%, 40% do meu faturamento, porque eu vendo só o rodízio e a bebida e a sobremesa o cliente compra aqui. A venda online cresceu muito, então a gente tem que estar lá também.

A partir dos seus estudos sobre essa mudança no comportamento dos consumidores, quais são as suas próximas estratégias e para onde você acha que um restaurante pode ir?

O que eu vejo é que a churrascaria rodízio, por si só, é muito cara pra quem paga e barata pra quem recebe. Por isso a quantidade de churrascarias pelo Brasil vem diminuindo. A proteína é justamente o mais caro de qualquer prato de qualquer restaurante, e a quantidade de funcionários é maior do que a de um restaurante à la carte.

Então fica mais caro para o cliente, mas não quer dizer que fica mais rentável para o dono da churrascaria, e precisamos de ecossistemas. Comer carne hoje já é luxo pra muita gente; e além dela, você tem o custo de um bom ponto, porque o aluguel tem que ser embutido no preço, bem como os funcionários e assim por diante.

Como o churrasco é uma paixão nacional, as pessoas vão migrar um pouco para fazer carne boa em casa para poder consumir um produto de maior qualidade. O restaurante tem que ter a margem dele, então em casa custa menos. Eu gostaria de estar presente nesses momentos especiais e participar dos momentos felizes das pessoas. Quero estar dentro dessa experiência, levando a qualidade e a credibilidade que o Porcão construiu nesses 50 anos.

Confira abaixo a entrevista completa com Fernando Junior para o podcast O Café e a Conta!

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