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Formado em engenharia civil e com MBA em administração de franquias, o paulista Altino Cristofoletti preside a Associação Brasileira de Franchising (ABF) desde 2017. Sua experiência vem dos 25 anos à frente da Casa do Construtor, fundada em Campinas como uma modesta loja de materiais de construção e hoje consolidada em todas as regiões do Brasil por meio do sistema de franquias.

Ele é também membro do Conselho de Associados da ABF e foi ainda vice-presidente por dois mandatos e presidente da Comissão de Ética da entidade. Todo o know-how do empresário faz com que ele tenha uma lúcida visão do singular momento vivido pela economia brasileira. Neste quesito, é enfático: “O ano de 2017 foi de recuperação do setor, mesmo que lenta e gradativa, e a tendência é que o franchising, dinâmico e estruturado como é, cresça mais em 2018, dado o reaquecimento da economia brasileira”.

O franchising registrou um crescimento de 8% em 2017, conforme balanço consolidado na Pesquisa de Desempenho da ABF. O faturamento do setor no período saltou de R$ 151,3 bilhões para R$163,3 bilhões no acumulado do ano.

Além da melhoria de vários indicadores macroeconômicos, a consistente queda de juros, a baixa inflação, a leve redução da taxa de desemprego e a queda dos custos dos alimentos acabaram impactando positivamente no poder de compra do brasileiro. Com isso, o consumo se reaqueceu, o que se refletiu no franchising de forma geral.

Na entrevista abaixo, exclusiva à revista Bares & Restaurantes, Cristofoletti fala sobre a importância da reforma trabalhista, necessidade do espírito empreendedor e da constante inovação. Confira:

Qual é a projeção de crescimento do faturamento do setor de franquias para 2018?

Com a gradual recuperação da economia, refletida no aumento do poder de compra do consumidor e no crescimento da confiança do empresariado, nossa projeção de crescimento para 2018 é de cerca de 10%. A expansão de 12,3% do terceiro para o quarto trimestre de 2017 é um forte indicativo desse movimento também.

O segmento de franquias cresceu em 2017 num ritmo superior ao do varejo em geral e dos serviços, e tem impulsionado a recuperação desses dois setores. As reformas econômicas podem alavancar ainda mais a economia. Como a ABF tem trabalhado especificamente a questão do trabalho intermitente para as 140 mil unidades de franquia em todo o Brasil?

Junto a outras entidades do varejo, a ABF vinha defendendo a atualização da lei trabalhista há pelo menos três anos. De forma que, as inovações trazidas pela reforma trabalhista são bem-vindas e, no médio prazo, tendem a criar mais empregos no setor de franquias, que faz uso intensivo de mão-de-obra, sendo inclusive o primeiro emprego de muitos jovens.Temos debatido este tema em vários fóruns da entidade, especialmente em seminários e no Comitê Jurídico. Porém, os franqueadores se encontram em estágios diferentes em relação a esta mudança: alguns preferiram aguardar a recepção dos tribunais à nova legislação, outros estão em fase de análise e alguns já realizaram contratações na nova sistemática. Com uma mudança tão grande nesta área, é normal que haja um período de transição, mas esperamos que o setor de franquias vá acelerando a implantação dessas mudanças, que respondem a demandas antigas do setor.

Em que a reforma trabalhista inova para o setor de franquias?

O trabalho intermitente, realidade de muitas redes de alimentação, por exemplo, e as ações para a diminuição da litigância trabalhista são as mais importantes. Pequenas alterações como a realizada em relação às férias, também foram bem-vindas.

Enquanto as vendas no comércio tiveram aumento de 3,7% em 2017 até novembro, e os serviços, de 2,3%, na mesma comparação, o faturamento das franquias avançou 8% no fechamento do ano, totalizando R$ 163 bilhões. Como explicar este crescimento em um momento de crise?

Os princípios básicos do sistema de franquias foram colocados à prova nesses três anos de recessão econômica. Foco em gestão, treinamento e inovação refletiram em bons resultados para o franchising como um todo. Além da melhora de vários indicadores macroeconômicos, a consistente queda de juros, a baixa inflação, a leve redução da taxa de desemprego e a queda dos custos dos alimentos acabaram impactando positivamente a renda real dos consumidores. Com isso, o consumo se reaqueceu (como verificado em vários ramos do varejo), o que se refletiu no franchising de forma geral. Outro fator importante para o desempenho do setor foi a inovação, refletida em novos produtos, serviços, formatos de negócio e pontos comerciais.

Desde 2014 até o ano passado, a cada 10 franquias, 9 investiram em novos produtos e serviços. Do desenvolvimento de novos produtos e sistemas de gestão até o uso de tecnologias como realidade virtual e internet das coisas, a inovação está cada vez mais presente no dia a dia das franquias. O movimento é hoje um dos pilares do crescimento do franchising, contribuindo inclusive na melhoria da rentabilidade das marcas. Hoje, qual é o perfil do empresário que entra no segmento de franquias de bares e restaurantes?

O setor de Alimentação é o mais tradicional e o mais representativo do setor. De forma que o perfil do empresário do setor como um todo e do segmento de Alimentação é muito semelhante. A maioria dos franqueados brasileiros são homens (cerca de 57%), casados (67%), na faixa dos 25 a 45 anos (mais de 60%). Predominam profissionais com experiência de mercado e graduação, porém a formação dos franqueados vem se aprimorando nos últimos anos, com pós-graduados, mestres, doutores e empresários egressos de outros setores. A vontade de abrir o próprio negócio é o grande incentivador da decisão, mas vem crescendo o perfil de profissionais que enxergam no franchising uma boa opção de investimento do ponto de vista financeiro.

Das 30 cidades brasileiras com maior número de franquias, 10 não são capitais. Essa descentralização é uma tendência para 2018? Há algum outro ponto que merece ser destacado?

Sim, a ABF vem acompanhando o movimento de interiorização do franchising há pelo menos cinco anos, tendência que irá ainda perdurar, impulsionada por fatores macro e microeconômicos. No campo macro, o crescimento sólido do agronegócio brasileiro vem criando verdadeiros celeiros de prosperidade em várias regiões do País. Com isso, se criaram vários arranjos produtivos locais que têm suas dinâmicas e públicos próprios. No campo micro, o interior oferece custos menores, especialmente de aluguel, mão de obra, menor concorrência e um público ávido por novidades. É o franchising buscando novos mercados e públicos em um País de dimensões continentais que ainda tem muito a oferecer.

Como focar em inovação num setor marcado por processos bem definidos, metodologia e investimento em capacitação de pessoas onde há sempre a figura de dois empreendedores, o franqueado numa ponta e o franqueador numa outra?

A inovação já faz parte da agenda do franchising brasileiro. Nos mais diversos segmentos, constatamos iniciativas que levaram à inovação, seja em novos modelos de negócios, no e-commerce, no uso de novas tecnologias, como no caso da realidade virtual, da internet das coisas, etc. A própria ABF tem desenvolvido ações que evidenciam esse fato, como por exemplo o lançamento do Smart Mall (espaço dedicado à inovação) na última Franchising Expo e o inédito concurso de startups que trouxe essas pequenas empresas inovadoras ao dia a dia das franquias. Tudo isso tem um papel positivo no setor, especialmente quando observamos ganhos de eficiência e resultados concretos que se refletiram no desempenho do setor nos últimos trimestres.

Esse movimento foi inclusive confirmado pela inédita Pesquisa de Inovação nas Franquias Brasileiras - realizada pela ABF em parceria com a Confederação Nacional de Serviços (CNS) e metodologia da Fundação Dom Cabral (FDC). Dentre outros dados relevantes, o estudo indicou que do total de empresas franqueadoras pesquisadas, 91,8% introduziram algum novo produto ou serviço entre 2014 e 2016. Dentre as empresas que se mantiveram inovadoras, 37,4% realizaram mudanças significativas em seus modelos de negócios no Brasil e 6,9% delas no exterior.

Embora, de fato, o setor seja baseado em padrões, metodologias, outra característica fundamental é a colaboração. E a inovação se dá justamente nessa parceria e feedback constante entre franqueador e franqueado. A atenção constante a indicadores de desempenho também ajuda muito, pois evidencia a necessidade de inovar para manter bons resultados.

Fonte: Revista Bares & Restaurantes, edição 120. A entrevista está disponível na íntegra na versão impressa.
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